Qual a relação entre o câncer e o diabetes?
Neste artigo da coluna “Fala, Doutor!”, o Dr. Daniel Garcia, oncologista clínico, explica como o câncer pode influenciar o diabetes e vice-versa
Por Dr. Daniel Garcia, oncologista clínico
Diabetes é uma doença metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue (ou açúcar no sangue), que pode levar ao longo do tempo a danos em órgãos como o coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos. O mais comum é o diabetes tipo 2, geralmente em adultos, que ocorre quando o corpo se torna resistente à insulina ou não produz insulina suficiente.
Nas últimas três décadas, a prevalência de diabetes tipo 2 aumentou dramaticamente em todo o mundo. Diabetes tipo 1, conhecido como diabetes insulino-dependente, é uma condição na qual o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. De 90% a 95% dos pacientes com diabetes têm o tipo 2, enquanto 5% a 10% têm o tipo 1.
Fatores de risco e epidemiologia
O câncer e o diabetes têm vários fatores de risco em comum, como obesidade, tabagismo, envelhecimento, sedentarismo e alimentação não saudável. Aproximadamente 1 em cada 5 pacientes com câncer tem diabetes.
O diabetes, especialmente o tipo 2, também é um fator de risco para o desenvolvimento de algumas malignidades como o câncer de pâncreas, fígado, cólon, mama e endométrio. Uma revisão do tipo “guarda-chuva”, que analisou 27 estudos de metanálise, concluiu que o diabetes tipo 2 aumenta em 10% o risco relativo de desenvolver câncer. Além disso, vários novos tratamentos contra o câncer ou o uso de corticoides podem levar ao diabetes ou agravar o diabetes preexistente.
Terapias contra o câncer e o diabetes
Nas últimas décadas, o cenário de tratamento da maioria das malignidades mudou com o surgimento das hormonioterapias, imunoterapias e terapias-alvo. Apesar dos avanços – que resultaram em aumento das taxas de cura, sobrevida e qualidade de vida dos pacientes -, estes tratamentos podem causar hiperglicemia. A quimioterapia convencional, por outro lado, tem efeito direto mínimo ou nenhum sobre a hiperglicemia, exceto quando utilizada juntamente com corticoides em doses mais elevadas.
As terapias que bloqueiam os hormônios – chamadas de hormonioterapias – revolucionaram o tratamento do câncer de mama e próstata. No entanto, também estão associadas ao aumento da resistência à insulina e desenvolvimento de diabetes.
Alguns tipos de imunoterapia ativam a imunidade e aumentam a resposta imune contra células malignas. Mas, ao mesmo tempo, podem causar fenômenos autoimunes como hipotireoidismo, hipertireoidismo, insuficiência adrenal e hipofisite. Raramente estão associados ao desenvolvimento de diabetes autoimune, reduzindo a produção de insulina das células β do pâncreas e simulando um diabetes tipo 1.
As terapias-alvo visam inibir a proliferação de células malignas, regulando o ciclo celular ou induzindo à apoptose (morte celular programada) destas células. No entanto, várias terapias-alvo têm sido associadas à hiperglicemia e uma específica pode induzir resistência à insulina semelhante à observada no diabetes tipo 2.
Screening e tratamento
A testagem para diabetes em pacientes com câncer, antes mesmo de iniciar o tratamento, é importante. Até um terço das pessoas com diabetes não são diagnosticadas. Isto é especialmente relevante em pacientes que têm fatores de risco para diabetes, como um alto índice de massa corporal (IMC), inatividade física, história familiar de diabetes e história de diabetes gestacional, ou aqueles que serão tratados com terapias associadas à hiperglicemia. Caso o tratamento indicado induza a um risco significativo de diabetes, o paciente deve ser educado sobre automonitoramento de glicose em seu domicílio.
O manejo do diabetes em pacientes com câncer deve ser idealmente multidisciplinar, envolvendo um especialista em diabetes (como o endocrinologista), nutricionista, farmacêutico e profissional de apoio psicossocial, em colaboração com a equipe de tratamento oncológico. Pacientes diabéticos em terapia anticâncer requerem controle de hiperglicemia com dieta apropriada, exercícios físicos, terapia antidiabética (hipoglicemiantes orais e/ou insulina, entre outros), controle de fluidos e eletrólitos, juntamente com tratamento das possíveis complicações do diabetes.
REFERÊNCIA:
SHAHID, R.K.; AHMED, S.; LE, D.; YADAV, S. DIABETES AND CANCER: RISK, CHALLENGES, MANAGEMENT AND OUTCOMES. CANCERS 2021, 13, 5735
Fonte: A.C Camargo
Neste artigo da coluna “Fala, Doutor!”, o Dr. Daniel Garcia, oncologista clínico, explica como o câncer pode influenciar o diabetes e vice-versa
Por Dr. Daniel Garcia, oncologista clínico
Diabetes é uma doença metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue (ou açúcar no sangue), que pode levar ao longo do tempo a danos em órgãos como o coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos. O mais comum é o diabetes tipo 2, geralmente em adultos, que ocorre quando o corpo se torna resistente à insulina ou não produz insulina suficiente.
Nas últimas três décadas, a prevalência de diabetes tipo 2 aumentou dramaticamente em todo o mundo. Diabetes tipo 1, conhecido como diabetes insulino-dependente, é uma condição na qual o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. De 90% a 95% dos pacientes com diabetes têm o tipo 2, enquanto 5% a 10% têm o tipo 1.
Fatores de risco e epidemiologia
O câncer e o diabetes têm vários fatores de risco em comum, como obesidade, tabagismo, envelhecimento, sedentarismo e alimentação não saudável. Aproximadamente 1 em cada 5 pacientes com câncer tem diabetes.
O diabetes, especialmente o tipo 2, também é um fator de risco para o desenvolvimento de algumas malignidades como o câncer de pâncreas, fígado, cólon, mama e endométrio. Uma revisão do tipo “guarda-chuva”, que analisou 27 estudos de metanálise, concluiu que o diabetes tipo 2 aumenta em 10% o risco relativo de desenvolver câncer. Além disso, vários novos tratamentos contra o câncer ou o uso de corticoides podem levar ao diabetes ou agravar o diabetes preexistente.
Terapias contra o câncer e o diabetes
Nas últimas décadas, o cenário de tratamento da maioria das malignidades mudou com o surgimento das hormonioterapias, imunoterapias e terapias-alvo. Apesar dos avanços – que resultaram em aumento das taxas de cura, sobrevida e qualidade de vida dos pacientes -, estes tratamentos podem causar hiperglicemia. A quimioterapia convencional, por outro lado, tem efeito direto mínimo ou nenhum sobre a hiperglicemia, exceto quando utilizada juntamente com corticoides em doses mais elevadas.
As terapias que bloqueiam os hormônios – chamadas de hormonioterapias – revolucionaram o tratamento do câncer de mama e próstata. No entanto, também estão associadas ao aumento da resistência à insulina e desenvolvimento de diabetes.
Alguns tipos de imunoterapia ativam a imunidade e aumentam a resposta imune contra células malignas. Mas, ao mesmo tempo, podem causar fenômenos autoimunes como hipotireoidismo, hipertireoidismo, insuficiência adrenal e hipofisite. Raramente estão associados ao desenvolvimento de diabetes autoimune, reduzindo a produção de insulina das células β do pâncreas e simulando um diabetes tipo 1.
As terapias-alvo visam inibir a proliferação de células malignas, regulando o ciclo celular ou induzindo à apoptose (morte celular programada) destas células. No entanto, várias terapias-alvo têm sido associadas à hiperglicemia e uma específica pode induzir resistência à insulina semelhante à observada no diabetes tipo 2.
Screening e tratamento
A testagem para diabetes em pacientes com câncer, antes mesmo de iniciar o tratamento, é importante. Até um terço das pessoas com diabetes não são diagnosticadas. Isto é especialmente relevante em pacientes que têm fatores de risco para diabetes, como um alto índice de massa corporal (IMC), inatividade física, história familiar de diabetes e história de diabetes gestacional, ou aqueles que serão tratados com terapias associadas à hiperglicemia. Caso o tratamento indicado induza a um risco significativo de diabetes, o paciente deve ser educado sobre automonitoramento de glicose em seu domicílio.
O manejo do diabetes em pacientes com câncer deve ser idealmente multidisciplinar, envolvendo um especialista em diabetes (como o endocrinologista), nutricionista, farmacêutico e profissional de apoio psicossocial, em colaboração com a equipe de tratamento oncológico. Pacientes diabéticos em terapia anticâncer requerem controle de hiperglicemia com dieta apropriada, exercícios físicos, terapia antidiabética (hipoglicemiantes orais e/ou insulina, entre outros), controle de fluidos e eletrólitos, juntamente com tratamento das possíveis complicações do diabetes.
REFERÊNCIA:
SHAHID, R.K.; AHMED, S.; LE, D.; YADAV, S. DIABETES AND CANCER: RISK, CHALLENGES, MANAGEMENT AND OUTCOMES. CANCERS 2021, 13, 5735
Fonte: A.C Camargo