O câncer exemplar
Não existe câncer mais importante do que os outros. Alguns tipos são mais graves, mas qualquer um preocupa, porque pode se agravar, se alastrar, voltar a ocorrer. Qualquer câncer, mínima que seja a lesão, tensiona o paciente até que haja a cura. Todos os tumores importam para a medicina, que tem a missão de lidar com eles. Quaisquer que sejam e o que causem. Eles importam para a pesquisa, as opções de carreira dos médicos, a organização do sistema de saúde. Todos são importantes de alguma forma e, como são muitos, muitas são as formas dessa importância. Mas existe uma situação em que um câncer é mais importante, sim, do que os outros. É quando ele ocorre numa pessoa famosa.
Se você entrar agora no Google e pesquisar sobre o câncer, vai surgir o nome de Preta Gil, por exemplo. Ela é a bola da vez, entre os pacientes notáveis. Vem tratando um colorretal desde o início do ano passado e o seu caso é acompanhado passo a passo pela imprensa. Já houve o momento de Rita Lee nas manchetes. De Ana Maria Braga, de Reynaldo Gianecchini, de Hebe Camargo. Também de Bruno Covas, para não ficarmos só nos artistas. O câncer é mais importante nos famosos não porque eles tenham mais direitos do que os pacientes comuns, muito menos um organismo diferente. É mais importante, simplesmente, porque são famosos. Essa condição impõe a eles uma responsabilidade, aí sim, especial: a de lidar, além do câncer no seu corpo, com a repercussão pública que ele tem, o efeito que provoca na percepção e no sentimento dos outros.
Preta é mesmo exemplar nisso. Ela encara a jornada com uma coragem admirável e tem o cuidado de fazer dela um parâmetro de equilíbrio e seriedade para quem a acompanha. É realmente inspiradora para quem tem a doença. Já outros famosos descuidam da postura. Mal terminam a quimioterapia e saem dizendo que estão curados, o que é uma imprudência enorme. Ninguém está curado em menos de cinco anos sem recidiva, que é o prazo de “seguimento” do processo, com exames regulares. Nossos médicos nos dizem isso, para nos manter sempre atentos, ligados em todos os cuidados que devemos ter no pós-tratamento. Se saímos por aí nos declarando curados antes desse prazo, desinformamos quem nos ouve. Os famosos farão isso em alta escala, se caírem na besteira. E alguns caem.
O câncer é mais importante naquelas pessoas que, além de uma vida pessoal, têm uma vida pública. Essas importam para os outros, tão ou mais do que a si mesmas. São as que descobrem as coisas novas, na ciência. As que tocam a nossa sensibilidade, na arte. As que dirigem as atividades coletivas, na política. As que dedicam a vida aos outros. Nós reconhecemos a importância que elas têm para a coletividade, com a admiração e o afeto que lhes damos. Elas devem retribuir a posição privilegiada que ocupam com senso de responsabilidade. São gigantes quando fazem também isso bem feito.
Mas apenas os famosos têm esse dever? Negativo. Você também, qualquer um de nós, oncológicos. Todos somos “famosos”, em algum nível, no círculo social em que vivemos. Temos importância para quem convive conosco. A experiência no câncer, portanto, não é apenas nossa. Muitos vão refletir sobre a doença no que enxergarem em nosso comportamento. Vão nos tomar como exemplo, se também formos exemplares. É mais um desafio que temos, entre todos os outros na doença. É a maior vitória que podemos ter, a de sermos valiosos para os outros, com a nossa positividade, a nossa disciplina e a nossa coragem.
Não existe câncer mais importante do que os outros. Alguns tipos são mais graves, mas qualquer um preocupa, porque pode se agravar, se alastrar, voltar a ocorrer. Qualquer câncer, mínima que seja a lesão, tensiona o paciente até que haja a cura. Todos os tumores importam para a medicina, que tem a missão de lidar com eles. Quaisquer que sejam e o que causem. Eles importam para a pesquisa, as opções de carreira dos médicos, a organização do sistema de saúde. Todos são importantes de alguma forma e, como são muitos, muitas são as formas dessa importância. Mas existe uma situação em que um câncer é mais importante, sim, do que os outros. É quando ele ocorre numa pessoa famosa.
Se você entrar agora no Google e pesquisar sobre o câncer, vai surgir o nome de Preta Gil, por exemplo. Ela é a bola da vez, entre os pacientes notáveis. Vem tratando um colorretal desde o início do ano passado e o seu caso é acompanhado passo a passo pela imprensa. Já houve o momento de Rita Lee nas manchetes. De Ana Maria Braga, de Reynaldo Gianecchini, de Hebe Camargo. Também de Bruno Covas, para não ficarmos só nos artistas. O câncer é mais importante nos famosos não porque eles tenham mais direitos do que os pacientes comuns, muito menos um organismo diferente. É mais importante, simplesmente, porque são famosos. Essa condição impõe a eles uma responsabilidade, aí sim, especial: a de lidar, além do câncer no seu corpo, com a repercussão pública que ele tem, o efeito que provoca na percepção e no sentimento dos outros.
Preta é mesmo exemplar nisso. Ela encara a jornada com uma coragem admirável e tem o cuidado de fazer dela um parâmetro de equilíbrio e seriedade para quem a acompanha. É realmente inspiradora para quem tem a doença. Já outros famosos descuidam da postura. Mal terminam a quimioterapia e saem dizendo que estão curados, o que é uma imprudência enorme. Ninguém está curado em menos de cinco anos sem recidiva, que é o prazo de “seguimento” do processo, com exames regulares. Nossos médicos nos dizem isso, para nos manter sempre atentos, ligados em todos os cuidados que devemos ter no pós-tratamento. Se saímos por aí nos declarando curados antes desse prazo, desinformamos quem nos ouve. Os famosos farão isso em alta escala, se caírem na besteira. E alguns caem.
O câncer é mais importante naquelas pessoas que, além de uma vida pessoal, têm uma vida pública. Essas importam para os outros, tão ou mais do que a si mesmas. São as que descobrem as coisas novas, na ciência. As que tocam a nossa sensibilidade, na arte. As que dirigem as atividades coletivas, na política. As que dedicam a vida aos outros. Nós reconhecemos a importância que elas têm para a coletividade, com a admiração e o afeto que lhes damos. Elas devem retribuir a posição privilegiada que ocupam com senso de responsabilidade. São gigantes quando fazem também isso bem feito.
Mas apenas os famosos têm esse dever? Negativo. Você também, qualquer um de nós, oncológicos. Todos somos “famosos”, em algum nível, no círculo social em que vivemos. Temos importância para quem convive conosco. A experiência no câncer, portanto, não é apenas nossa. Muitos vão refletir sobre a doença no que enxergarem em nosso comportamento. Vão nos tomar como exemplo, se também formos exemplares. É mais um desafio que temos, entre todos os outros na doença. É a maior vitória que podemos ter, a de sermos valiosos para os outros, com a nossa positividade, a nossa disciplina e a nossa coragem.