Avanços no tratamento do câncer gástrico, classificação molecular e novas terapias
Confira esta edição da coluna Fala, Doutor” com o Dr. Felipe Coimbra e Dr. Thiago Felismino
O câncer gástrico ocupa o quinto lugar em incidência global e é a quarta principal causa de morte relacionada ao câncer. Trata-se de uma doença distinta em diferentes regiões geográficas e isso é demonstrado pela variabilidade nos fatores de risco e prognóstico.
Anteriormente, a classificação desses tumores se baseava apenas na caracterização histológica, ou seja, avaliação do tipo celular identificado apenas por exame mais superficial ao microscópio, o que limitava a interpretação do prognóstico e predição de resposta, por exemplo.
Porém, em 2014, um estudo chamado The Cancer Genome Atlas (TCGA) publicou uma análise abrangente com a caracterização molecular do DNA, RNA e proteínas de 295 casos de câncer gástrico diagnosticados e ressecados, gerando um conhecimento ainda mais detalhado e, associado a outros progressos, um dos responsáveis pelo aumento dos resultados de sobrevida ao longo das últimas décadas. As amostras foram classificadas em quatro subgrupos de acordo com a classificação molecular, que são:
- Subgrupo positivo para vírus Epstein-Barr (EBV) (8,8%): relacionado à infecção pelo EBV, esses tumores exibem hipermetilação do DNA, superexpressão de PDL1 e mutações não silenciosas no gene PIK3CA.
- Instabilidade de microssatélites (MSI) (21,6%): mais comum em pacientes idosos e caracterizado por alta carga mutacional do tumor (TMB) e hipermetilação (incluindo o promotor do gene MLH1).
- Genomicamente estáveis (GS) (19,6%): caracterizados por um baixo número de mutações e fusões do gene CLDN-18.
- Instabilidade cromossômica (CIN) (49,8%): apresentam amplificações significativas de receptores tirosina quinase.
Essa classificação revelou diferenças no prognóstico e levou a estratégias de tratamento mais personalizadas. Por exemplo, o subgrupo CIN frequentemente apresentou amplificação do fator de crescimento endotelial vascular A (VEGFA), que funciona como um alvo para determinados medicamentos, tornando-o mais sensível ao tratamento com Ramucirumab, por exemplo, um anticorpo monoclonal anti-VEGFR2, em pacientes com câncer gástrico metastático.
O gene do receptor 2 do fator de crescimento epidermal humano (HER2) foi amplificado em 14-22% dos cânceres gástricos, principalmente em tumores CIN na junção gastroesofágica.
Terapias direcionadas a HER2, como trastuzumabe e trastuzumabe-deruxtecan, mostraram eficácia clínica em estágios avançados. Além disso, a amplificação do receptor do fator de crescimento de fibroblastos (FGFR) é prevalente no subtipo CIN e recentemente mostrou-se tratável com o anticorpo anti-FGFR, bemarituzumabe, em tumores com amplificação ou superexpressão do FGFR2B.
Nos demais subgrupos gástricos, tumores EBV e MSI frequentemente apresentam superexpressão de PDL1 e alta TMB, demonstrando benefício clínico da imunoterapia em doença avançada. A claudina 18-2 é superexpressa em 20-30% dos tumores gástricos, mais frequentemente em tumores GS. O tratamento com zolbetuximabe, um anticorpo monoclonal anti-claudina 18, mostrou eficácia clínica em ensaios clínicos de fase III em câncer gástrico metastático.
Em suma, a classificação molecular do câncer gástrico pelo TCGA teve um grande impacto na implementação de novas terapias direcionada, permitindo tratamentos mais personalizados.
Temos observado um ganho significativo de sobrevida para pacientes com câncer de estômago e isso se deve também ao desenvolvimento da ciência em outras áreas, assim como a interação da pesquisa básica com a prática clínica. Também é importante ressaltar o enorme desenvolvimento dos tratamentos cirúrgicos, com o uso cada vez maior de cirurgias laparoscópicas e robóticas associadas a protocolos de recuperação precoce e pré-habilitação cirúrgica.
Esses protocolos ainda pouco utilizados em centros não especializados e permitem uma recuperação mais rápida e segura, com menor risco de sangramento e ganho de qualidade de vida no pós-operatório imediato. O desenvolvimento de uma rede interdisciplinar com as diversas especialidades médicas e multiprofissionais permitiu também que o paciente ganhasse os melhores benefícios de cada área.
Recentemente, o setor de registro hospitalar, coordenado pela Dra. Maria Paula Curado e Diego Rodrigues Silva, demonstraram esta mudança, com um ganho de 100% de sobrevida nos últimos 17 anos para o câncer gástrico tratados na instituição.
Fonte: A.C Camargo
Confira esta edição da coluna Fala, Doutor” com o Dr. Felipe Coimbra e Dr. Thiago Felismino
O câncer gástrico ocupa o quinto lugar em incidência global e é a quarta principal causa de morte relacionada ao câncer. Trata-se de uma doença distinta em diferentes regiões geográficas e isso é demonstrado pela variabilidade nos fatores de risco e prognóstico.
Anteriormente, a classificação desses tumores se baseava apenas na caracterização histológica, ou seja, avaliação do tipo celular identificado apenas por exame mais superficial ao microscópio, o que limitava a interpretação do prognóstico e predição de resposta, por exemplo.
Porém, em 2014, um estudo chamado The Cancer Genome Atlas (TCGA) publicou uma análise abrangente com a caracterização molecular do DNA, RNA e proteínas de 295 casos de câncer gástrico diagnosticados e ressecados, gerando um conhecimento ainda mais detalhado e, associado a outros progressos, um dos responsáveis pelo aumento dos resultados de sobrevida ao longo das últimas décadas. As amostras foram classificadas em quatro subgrupos de acordo com a classificação molecular, que são:
- Subgrupo positivo para vírus Epstein-Barr (EBV) (8,8%): relacionado à infecção pelo EBV, esses tumores exibem hipermetilação do DNA, superexpressão de PDL1 e mutações não silenciosas no gene PIK3CA.
- Instabilidade de microssatélites (MSI) (21,6%): mais comum em pacientes idosos e caracterizado por alta carga mutacional do tumor (TMB) e hipermetilação (incluindo o promotor do gene MLH1).
- Genomicamente estáveis (GS) (19,6%): caracterizados por um baixo número de mutações e fusões do gene CLDN-18.
- Instabilidade cromossômica (CIN) (49,8%): apresentam amplificações significativas de receptores tirosina quinase.
Essa classificação revelou diferenças no prognóstico e levou a estratégias de tratamento mais personalizadas. Por exemplo, o subgrupo CIN frequentemente apresentou amplificação do fator de crescimento endotelial vascular A (VEGFA), que funciona como um alvo para determinados medicamentos, tornando-o mais sensível ao tratamento com Ramucirumab, por exemplo, um anticorpo monoclonal anti-VEGFR2, em pacientes com câncer gástrico metastático.
O gene do receptor 2 do fator de crescimento epidermal humano (HER2) foi amplificado em 14-22% dos cânceres gástricos, principalmente em tumores CIN na junção gastroesofágica.
Terapias direcionadas a HER2, como trastuzumabe e trastuzumabe-deruxtecan, mostraram eficácia clínica em estágios avançados. Além disso, a amplificação do receptor do fator de crescimento de fibroblastos (FGFR) é prevalente no subtipo CIN e recentemente mostrou-se tratável com o anticorpo anti-FGFR, bemarituzumabe, em tumores com amplificação ou superexpressão do FGFR2B.
Nos demais subgrupos gástricos, tumores EBV e MSI frequentemente apresentam superexpressão de PDL1 e alta TMB, demonstrando benefício clínico da imunoterapia em doença avançada. A claudina 18-2 é superexpressa em 20-30% dos tumores gástricos, mais frequentemente em tumores GS. O tratamento com zolbetuximabe, um anticorpo monoclonal anti-claudina 18, mostrou eficácia clínica em ensaios clínicos de fase III em câncer gástrico metastático.
Em suma, a classificação molecular do câncer gástrico pelo TCGA teve um grande impacto na implementação de novas terapias direcionada, permitindo tratamentos mais personalizados.
Temos observado um ganho significativo de sobrevida para pacientes com câncer de estômago e isso se deve também ao desenvolvimento da ciência em outras áreas, assim como a interação da pesquisa básica com a prática clínica. Também é importante ressaltar o enorme desenvolvimento dos tratamentos cirúrgicos, com o uso cada vez maior de cirurgias laparoscópicas e robóticas associadas a protocolos de recuperação precoce e pré-habilitação cirúrgica.
Esses protocolos ainda pouco utilizados em centros não especializados e permitem uma recuperação mais rápida e segura, com menor risco de sangramento e ganho de qualidade de vida no pós-operatório imediato. O desenvolvimento de uma rede interdisciplinar com as diversas especialidades médicas e multiprofissionais permitiu também que o paciente ganhasse os melhores benefícios de cada área.
Recentemente, o setor de registro hospitalar, coordenado pela Dra. Maria Paula Curado e Diego Rodrigues Silva, demonstraram esta mudança, com um ganho de 100% de sobrevida nos últimos 17 anos para o câncer gástrico tratados na instituição.
Fonte: A.C Camargo