Cientistas focam em evitar desnecessárias cirurgias de tireoide
Com espectrometria de massas e alterações genéticas, pesquisas visam elucidar maior conhecimento da biologia do tumor
Quase seis vezes mais comum nas mulheres, o câncer de tireoide, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), deverá acometer mais de 8 mil brasileiras em 2019, sendo assim o quinto tumor maligno mais incidente entre elas – atrás de mama, colorretal, colo do útero e pulmão. No mundo, de acordo com o banco de dados do National Cancer Institute, dos Estados Unidos, a incidência de câncer de tireoide triplicou nas últimas quatro décadas.
Em São Paulo, onde são registradas uma das maiores taxas do país (10 casos para cada 100 mil habitantes), as principais causas apontadas para o aumento dos casos diagnosticados são o maior acesso ao exame de ultrassonografia com punção por agulha fina. Essa biópsia é o principal método para determinar se um nódulo tireoidiano é benigno ou maligno.
Em busca de precisão
O resultado do exame de punção de agulha fina é indeterminado em cerca de 20% dos casos. E, por precaução, muitas vezes o paciente é submetido à cirurgia para a retirada da glândula. Na sequência, análises pós-operatórias revelam apenas doença benigna em 60% a 80% desses pacientes com diagnóstico indeterminado.
“Por segurança, pode-se optar pela cirurgia nos casos com ultrassonografia suspeita, histórico familiar de câncer tireoidiano e de excesso de exposição a irradiações”, explica Luiz Paulo Kowalski, head de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo.
O problema é a ausência de um método mais preciso de diagnóstico, já que somente depois de retirar a glândula é que se observa que o procedimento poderia ter sido evitado.
O gene BRAF
Genes que sejam capazes de ajudar na diferenciação dos nódulos tireoidianos e técnicas que aumentem a exatidão do diagnóstico são os caminhos trilhados com o foco em evitar as cirurgias desnecessárias. Alguns testes genéticos encontram-se atualmente disponíveis em alguns laboratórios e hospitais e podem, em casos específicos, ajudar na indicação do tratamento.
A equipe de Kowalski iniciou em 2015 um projeto financiado pela Fapesp com o objetivo de desenvolver métodos moleculares úteis para o diagnóstico diferencial de nódulos da tireoide.
Dois anos depois, Kowalski foi um dos pesquisadores que assinaram o estudo Integrated Data Analysis Reveals Driveres and Pathways Disrupted by DNA Methylation in Pappilary Thyroid Carcinomas, publicado na Clinical Epigenetics. A pesquisa, que contou com 41 amostras do banco de tumores do A.C.Camargo de pacientes com câncer papilífero da tireoide (o subtipo mais comum), confirmando dados já conhecidos da literatura médica, mostrou que a alteração no DNA (mutação) mais comum é em um gene chamado BRAF.
Observou-se também que o BRAF tem uma mutação na posição 1799 da série de letras do DNA (A de adenina, T de timina, C de citosina e G de guanina), em que um T é trocado por um A, como se fosse um erro de digitação.
Esse resultado pode ser visto como sendo uma “receita” para fazer a correção dessa proteína anormal de BRAF, fazendo com que a célula receba a ordem de parar de se multiplicar desordenadamente.
“Queremos ser capazes de identificar quais genes e mutações tornam alguns tumores mais agressivos, com pior evolução. E, com isso, poderemos por exemplo recomendar que seja feito um acompanhamento mais frequente desses pacientes”, acrescenta Kowalski.
Brasileira inova no Texas
A química brasileira Lívia Eberlin, que lidera o laboratório de espectrometria de massas da Universidade do Texas, mostra que a tecnologia desenvolvida por sua equipe é capaz de ampliar a precisão do diagnóstico do câncer de tireoide.
Técnica que detecta e identifica moléculas por meio da medição da sua massa e da caracterização de sua estrutura química, a espectrometria de massas, segundo Lívia, é um método de análise metabólica que faz, com rapidez e precisão, a diferenciação entre o tecido normal e o doente.
Em seu laboratório, a cientista campineira usa um equipamento que consegue analisar mais de uma centena de moléculas de uma amostra clínica em menos de um segundo. “Essa tecnologia se expande para outros tipos de câncer, pois fazemos com fluídos, tecidos, amostras de sangue, células tumorais circulantes. Enfim, com tudo que tem célula”, afirma Lívia Eberlin.
Outra boa notícia, explica a química, é que muitas das alterações metabólicas que estão sendo observadas por espectrometria de massas fazem sentido quando comparadas com as alterações genéticas. A vantagem para a espectrometria de massas está em sua agilidade e no menor custo quando comparada ao teste genético.
A análise da equipe no Texas, que continha 178 amostras obtidas por punção de agulha fina, mostrou 93% de acurácia, 92% de sensibilidade e 94% de especificidade em casos de tumores de tireoide do tipo papilífero; já em nódulos foliculares exibiu 83% de acurácia, 81% de sensibilidade e 84% de especificidade. “Esses resultados mostram que, com a análise de massas, nós estamos no caminho certo”, comemora Lívia.
Com espectrometria de massas e alterações genéticas, pesquisas visam elucidar maior conhecimento da biologia do tumor
Quase seis vezes mais comum nas mulheres, o câncer de tireoide, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), deverá acometer mais de 8 mil brasileiras em 2019, sendo assim o quinto tumor maligno mais incidente entre elas – atrás de mama, colorretal, colo do útero e pulmão. No mundo, de acordo com o banco de dados do National Cancer Institute, dos Estados Unidos, a incidência de câncer de tireoide triplicou nas últimas quatro décadas.
Em São Paulo, onde são registradas uma das maiores taxas do país (10 casos para cada 100 mil habitantes), as principais causas apontadas para o aumento dos casos diagnosticados são o maior acesso ao exame de ultrassonografia com punção por agulha fina. Essa biópsia é o principal método para determinar se um nódulo tireoidiano é benigno ou maligno.
Em busca de precisão
O resultado do exame de punção de agulha fina é indeterminado em cerca de 20% dos casos. E, por precaução, muitas vezes o paciente é submetido à cirurgia para a retirada da glândula. Na sequência, análises pós-operatórias revelam apenas doença benigna em 60% a 80% desses pacientes com diagnóstico indeterminado.
“Por segurança, pode-se optar pela cirurgia nos casos com ultrassonografia suspeita, histórico familiar de câncer tireoidiano e de excesso de exposição a irradiações”, explica Luiz Paulo Kowalski, head de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo.
O problema é a ausência de um método mais preciso de diagnóstico, já que somente depois de retirar a glândula é que se observa que o procedimento poderia ter sido evitado.
O gene BRAF
Genes que sejam capazes de ajudar na diferenciação dos nódulos tireoidianos e técnicas que aumentem a exatidão do diagnóstico são os caminhos trilhados com o foco em evitar as cirurgias desnecessárias. Alguns testes genéticos encontram-se atualmente disponíveis em alguns laboratórios e hospitais e podem, em casos específicos, ajudar na indicação do tratamento.
A equipe de Kowalski iniciou em 2015 um projeto financiado pela Fapesp com o objetivo de desenvolver métodos moleculares úteis para o diagnóstico diferencial de nódulos da tireoide.
Dois anos depois, Kowalski foi um dos pesquisadores que assinaram o estudo Integrated Data Analysis Reveals Driveres and Pathways Disrupted by DNA Methylation in Pappilary Thyroid Carcinomas, publicado na Clinical Epigenetics. A pesquisa, que contou com 41 amostras do banco de tumores do A.C.Camargo de pacientes com câncer papilífero da tireoide (o subtipo mais comum), confirmando dados já conhecidos da literatura médica, mostrou que a alteração no DNA (mutação) mais comum é em um gene chamado BRAF.
Observou-se também que o BRAF tem uma mutação na posição 1799 da série de letras do DNA (A de adenina, T de timina, C de citosina e G de guanina), em que um T é trocado por um A, como se fosse um erro de digitação.
Esse resultado pode ser visto como sendo uma “receita” para fazer a correção dessa proteína anormal de BRAF, fazendo com que a célula receba a ordem de parar de se multiplicar desordenadamente.
“Queremos ser capazes de identificar quais genes e mutações tornam alguns tumores mais agressivos, com pior evolução. E, com isso, poderemos por exemplo recomendar que seja feito um acompanhamento mais frequente desses pacientes”, acrescenta Kowalski.
Brasileira inova no Texas
A química brasileira Lívia Eberlin, que lidera o laboratório de espectrometria de massas da Universidade do Texas, mostra que a tecnologia desenvolvida por sua equipe é capaz de ampliar a precisão do diagnóstico do câncer de tireoide.
Técnica que detecta e identifica moléculas por meio da medição da sua massa e da caracterização de sua estrutura química, a espectrometria de massas, segundo Lívia, é um método de análise metabólica que faz, com rapidez e precisão, a diferenciação entre o tecido normal e o doente.
Em seu laboratório, a cientista campineira usa um equipamento que consegue analisar mais de uma centena de moléculas de uma amostra clínica em menos de um segundo. “Essa tecnologia se expande para outros tipos de câncer, pois fazemos com fluídos, tecidos, amostras de sangue, células tumorais circulantes. Enfim, com tudo que tem célula”, afirma Lívia Eberlin.
Outra boa notícia, explica a química, é que muitas das alterações metabólicas que estão sendo observadas por espectrometria de massas fazem sentido quando comparadas com as alterações genéticas. A vantagem para a espectrometria de massas está em sua agilidade e no menor custo quando comparada ao teste genético.
A análise da equipe no Texas, que continha 178 amostras obtidas por punção de agulha fina, mostrou 93% de acurácia, 92% de sensibilidade e 94% de especificidade em casos de tumores de tireoide do tipo papilífero; já em nódulos foliculares exibiu 83% de acurácia, 81% de sensibilidade e 84% de especificidade. “Esses resultados mostram que, com a análise de massas, nós estamos no caminho certo”, comemora Lívia.