Erros em informatização refletem má gestão no SUS

Erros em informatização refletem má gestão no SUS

Os clamores por mais verbas para a Saúde são permanentes, comparáveis apenas às reivindicações de um orçamento maior para a Educação, outro setor estratégico. Até é compreensível, diante da missão do sistema único (SUS) de atender gratuitamente toda a população em um país de mais de 200 milhões de habitantes, a grande maioria sem condições de acesso à medicina privada.

Tudo no SUS é gigantesco. Basta citar que se trata do maior comprador individual de medicamentos do mundo. E mesmo com um orçamento, no ano passado, de pouco mais de R$ 100 bilhões, divididos entre governos federal, estaduais e municipais, mantém-se a crítica ao “subfinanciamento da Saúde”.
Há vários indicadores usados para confirmar esta alegada falta de recursos. Mas há, também, uma grande quantidade de exemplos de desmandos administrativos que justificam a certeza de que a melhoria do padrão gerencial — e ético — no SUS arejaria bastante o caixa do sistema.
Há também uma enormidade de dados na Controladoria-Geral da União (CGU) sobre desvios feitos no sistema, por incúria, o que seja. Casos não faltam, e de todos os tipos. Um deles, abordado anteontem pelo GLOBO, se refere à barafunda que virou a informatização do atendimento no SUS, um projeto nada complicado no mundo da iniciativa privada.
Mas, na órbita pública, em que não há a cultura da meritocracia e persiste a ideia de que dinheiro público é inesgotável e não tem dono, o simples se torna de extrema complexidade e a tendência do crescimento das despesas é o infinito.
Por isso, há sistemas informatizados na saúde pública que não se comunicam entre si, algo até anedótico não fosse uma fonte a mais de dificuldades na via crucis da população de renda mais baixa. Exemplo: o cadastro do paciente de ambulatório é feito no Hospub, mas o seu prontuário médico fica no E-SUS. Como nem todos os funcionários têm acesso aos dois sistemas, a alteração no agendamento de consultas pode não ser comunicada ao paciente.
O E-SUS nos hospitais federais no Rio, outro exemplo, não se interconecta com o SisReg, de gerenciamento de vagas na rede municipal. Tudo é SUS, mas é como se não fosse.
Há, ainda, a novela no Cartão SUS. Outra boa ideia que não consegue ser implementada. Nele estará todo o prontuário médico do paciente do SUS. Ou estaria, pois os governos não conseguem concluir o projeto, mesmo ele já tendo tragado R$ 200 milhões.
Este é o perfil do SUS: um sistema que mobiliza cifras gigantescas, com projetos mal executados e evidências gritantes de má gestão. Se parte da energia e do tempo gastos na mobilização por mais verbas fosse dirigida para melhorar o gerenciamento do sistema, seria um avanço formidável. Mas o óbvio costuma enfrentar muitas resistências dentro do Estado brasileiro.

* Informações de O Globo

Os clamores por mais verbas para a Saúde são permanentes, comparáveis apenas às reivindicações de um orçamento maior para a Educação, outro setor estratégico. Até é compreensível, diante da missão do sistema único (SUS) de atender gratuitamente toda a população em um país de mais de 200 milhões de habitantes, a grande maioria sem condições de acesso à medicina privada.

Tudo no SUS é gigantesco. Basta citar que se trata do maior comprador individual de medicamentos do mundo. E mesmo com um orçamento, no ano passado, de pouco mais de R$ 100 bilhões, divididos entre governos federal, estaduais e municipais, mantém-se a crítica ao “subfinanciamento da Saúde”.
Há vários indicadores usados para confirmar esta alegada falta de recursos. Mas há, também, uma grande quantidade de exemplos de desmandos administrativos que justificam a certeza de que a melhoria do padrão gerencial — e ético — no SUS arejaria bastante o caixa do sistema.
Há também uma enormidade de dados na Controladoria-Geral da União (CGU) sobre desvios feitos no sistema, por incúria, o que seja. Casos não faltam, e de todos os tipos. Um deles, abordado anteontem pelo GLOBO, se refere à barafunda que virou a informatização do atendimento no SUS, um projeto nada complicado no mundo da iniciativa privada.
Mas, na órbita pública, em que não há a cultura da meritocracia e persiste a ideia de que dinheiro público é inesgotável e não tem dono, o simples se torna de extrema complexidade e a tendência do crescimento das despesas é o infinito.
Por isso, há sistemas informatizados na saúde pública que não se comunicam entre si, algo até anedótico não fosse uma fonte a mais de dificuldades na via crucis da população de renda mais baixa. Exemplo: o cadastro do paciente de ambulatório é feito no Hospub, mas o seu prontuário médico fica no E-SUS. Como nem todos os funcionários têm acesso aos dois sistemas, a alteração no agendamento de consultas pode não ser comunicada ao paciente.
O E-SUS nos hospitais federais no Rio, outro exemplo, não se interconecta com o SisReg, de gerenciamento de vagas na rede municipal. Tudo é SUS, mas é como se não fosse.
Há, ainda, a novela no Cartão SUS. Outra boa ideia que não consegue ser implementada. Nele estará todo o prontuário médico do paciente do SUS. Ou estaria, pois os governos não conseguem concluir o projeto, mesmo ele já tendo tragado R$ 200 milhões.
Este é o perfil do SUS: um sistema que mobiliza cifras gigantescas, com projetos mal executados e evidências gritantes de má gestão. Se parte da energia e do tempo gastos na mobilização por mais verbas fosse dirigida para melhorar o gerenciamento do sistema, seria um avanço formidável. Mas o óbvio costuma enfrentar muitas resistências dentro do Estado brasileiro.

* Informações de O Globo