O Dia da(o) Nutricionista e sua importância no tratamento oncológico

O Dia da(o) Nutricionista e sua importância no tratamento oncológico

Supervisora de Nutrição Clínica do A.C.Camargo Cancer Center, Thais Manfrinato Miola conta como atua, da prevenção ao conforto

Dia 31 de agosto é de festejar o ofício de nutricionista, profissional que faz um papel vital, sobretudo na oncologia. Afinal, sua atuação vai desde a prevenção à fase final de vida de uma pessoa, cujo acompanhamento visa o conforto dela. A seguir, um papo com Thais Manfrinato Miola, Supervisora de Nutrição Clínica do A.C.Camargo, que fala das possibilidades alimentícias nos diferentes estágios oncológicos – e das recorrentes fake news. 

O que seria uma alimentação preventiva em relação aos tumores? 
É aquela repleta de frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais. Algumas frutas e vegetais têm ação antioxidante, que protegem o sistema imunológico. É saudável combinar arroz, feijão, salada e carne, mas nunca carnes processadas, pois não há níveis seguros de consumo para elas. Para se ter ideia, bastam 50 gramas de uma carne processada, o equivalente a uma salsicha, para aumentar em 18% a chance de desenvolver câncer colorretal.

Aliás, fala-se em excesso de carne vermelha como um vilão na alimentação. Quanto seria recomendável?
Não ultrapassar 500 gramas por semana. 

E o que mais a gente deve evitar?
A dieta deve ser pobre em gorduras, açúcares e alimentos ultraprocessados, como salsicha, hambúrguer e nuggets.

O importante é descascar sempre mais que abrir embalagens, abusar de alimentos minimamente processados…
Sim, excluir congelados, embutidos, conservas, enlatados. Há sucos de caixinha, por exemplo, que prometem não conter conservantes. Mas como esse produto resiste por meses na prateleira do mercado? Em casa, faça o teste: abra-o e deixe-o na geladeira. Ele vai durar, pois contém conservantes, mesmo que em quantidade reduzida. 

Durante o tratamento: como a nutricionista atua? 
Ao ser internado, o paciente passa pela nutricionista, que realiza uma triagem e avalia se há algum risco. Aí se determina o estado nutricional e o quanto esse paciente precisa na dieta. Se há desnutrição, entra-se com suplementos por via oral, líquidos ou em pó, às vezes misturados com outro alimento. Alguns casos cirúrgicos de cabeça e pescoço, por exemplo, requerem alimentação com sonda nasoenteral. Em episódios mais graves, com complicações cirúrgicas do trato gastrintestinal, aí a nutrição é parenteral, pela veia.

Há alguns alimentos-chave conforme os sintomas?
Gengibre e limão vão bem para quem tem náusea. Se há diarreia, troca-se mamão por maçã. Já quem está com o paladar alterado pela quimioterapia pode ter o tempero trocado.

Como é a interação multidisciplinar?
Há reuniões de discussão de casos, o tumor board, sobretudo em cabeça e pescoço, colorretal e abdômen. E o médico entra em contato com a nutrição sempre que necessário, assim como a enfermagem, a fisioterapia. E a gente discute.
 
Tem chef no A.C.Camargo?
Cada cozinha tem um chef, que ajuda muito nessas preparações específicas, na elaboração e na apresentação dos pratos.

Câncer colorretal: a alimentação é essencial no pós-operatório, inclusive na cicatrização?
A gente consegue voltar com a dieta 24 horas após a cirurgia: primeiro, é líquida, aí evolui para pastosa e, depois, para uma alimentação leve, cujo programa se leva para casa quando ocorre a alta. É assim também com cirurgias abdominais. A gente segue acompanhando os pacientes também no ambulatório, na quimioterapia e na radioterapia.

Como funcionam os casos em que o paciente vive a fase final da vida? 
Se a expectativa é baixa, a alimentação enteral se torna uma agressão a mais para o paciente, quando a prioridade deve ser o conforto dele. Sempre que possível, a gente providencia algum prato que traga boas recordações. Por exemplo, uma sopa que remeta à avó, à infância.

Boato recente fala em água de coco quente curar o câncer. Como você vê isso?
É natural que um paciente diagnosticado procurará um diferencial. Se ele vê uma notícia como essa, se apega e quer tentar, mas há muita coisa sem comprovação nem estudo. Para dizer que um alimento cura, tem de se fazer pesquisas in vitro, com células, ratos, até chegar ao ser humano. Isso demora. É necessário muito cuidado com o que se come quando se está na químio, pois as interações medicamentosas podem prejudicar a ação do quimioterápico. Um exemplo disso é o chá verde. Há alimentos que ajudam na prevenção, não no tratamento. Às vezes, o paciente investe até em suplementação por conta própria, mas isso pode ser perigoso.

Supervisora de Nutrição Clínica do A.C.Camargo Cancer Center, Thais Manfrinato Miola conta como atua, da prevenção ao conforto

Dia 31 de agosto é de festejar o ofício de nutricionista, profissional que faz um papel vital, sobretudo na oncologia. Afinal, sua atuação vai desde a prevenção à fase final de vida de uma pessoa, cujo acompanhamento visa o conforto dela. A seguir, um papo com Thais Manfrinato Miola, Supervisora de Nutrição Clínica do A.C.Camargo, que fala das possibilidades alimentícias nos diferentes estágios oncológicos – e das recorrentes fake news. 

O que seria uma alimentação preventiva em relação aos tumores? 
É aquela repleta de frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais. Algumas frutas e vegetais têm ação antioxidante, que protegem o sistema imunológico. É saudável combinar arroz, feijão, salada e carne, mas nunca carnes processadas, pois não há níveis seguros de consumo para elas. Para se ter ideia, bastam 50 gramas de uma carne processada, o equivalente a uma salsicha, para aumentar em 18% a chance de desenvolver câncer colorretal.

Aliás, fala-se em excesso de carne vermelha como um vilão na alimentação. Quanto seria recomendável?
Não ultrapassar 500 gramas por semana. 

E o que mais a gente deve evitar?
A dieta deve ser pobre em gorduras, açúcares e alimentos ultraprocessados, como salsicha, hambúrguer e nuggets.

O importante é descascar sempre mais que abrir embalagens, abusar de alimentos minimamente processados…
Sim, excluir congelados, embutidos, conservas, enlatados. Há sucos de caixinha, por exemplo, que prometem não conter conservantes. Mas como esse produto resiste por meses na prateleira do mercado? Em casa, faça o teste: abra-o e deixe-o na geladeira. Ele vai durar, pois contém conservantes, mesmo que em quantidade reduzida. 

Durante o tratamento: como a nutricionista atua? 
Ao ser internado, o paciente passa pela nutricionista, que realiza uma triagem e avalia se há algum risco. Aí se determina o estado nutricional e o quanto esse paciente precisa na dieta. Se há desnutrição, entra-se com suplementos por via oral, líquidos ou em pó, às vezes misturados com outro alimento. Alguns casos cirúrgicos de cabeça e pescoço, por exemplo, requerem alimentação com sonda nasoenteral. Em episódios mais graves, com complicações cirúrgicas do trato gastrintestinal, aí a nutrição é parenteral, pela veia.

Há alguns alimentos-chave conforme os sintomas?
Gengibre e limão vão bem para quem tem náusea. Se há diarreia, troca-se mamão por maçã. Já quem está com o paladar alterado pela quimioterapia pode ter o tempero trocado.

Como é a interação multidisciplinar?
Há reuniões de discussão de casos, o tumor board, sobretudo em cabeça e pescoço, colorretal e abdômen. E o médico entra em contato com a nutrição sempre que necessário, assim como a enfermagem, a fisioterapia. E a gente discute.
 
Tem chef no A.C.Camargo?
Cada cozinha tem um chef, que ajuda muito nessas preparações específicas, na elaboração e na apresentação dos pratos.

Câncer colorretal: a alimentação é essencial no pós-operatório, inclusive na cicatrização?
A gente consegue voltar com a dieta 24 horas após a cirurgia: primeiro, é líquida, aí evolui para pastosa e, depois, para uma alimentação leve, cujo programa se leva para casa quando ocorre a alta. É assim também com cirurgias abdominais. A gente segue acompanhando os pacientes também no ambulatório, na quimioterapia e na radioterapia.

Como funcionam os casos em que o paciente vive a fase final da vida? 
Se a expectativa é baixa, a alimentação enteral se torna uma agressão a mais para o paciente, quando a prioridade deve ser o conforto dele. Sempre que possível, a gente providencia algum prato que traga boas recordações. Por exemplo, uma sopa que remeta à avó, à infância.

Boato recente fala em água de coco quente curar o câncer. Como você vê isso?
É natural que um paciente diagnosticado procurará um diferencial. Se ele vê uma notícia como essa, se apega e quer tentar, mas há muita coisa sem comprovação nem estudo. Para dizer que um alimento cura, tem de se fazer pesquisas in vitro, com células, ratos, até chegar ao ser humano. Isso demora. É necessário muito cuidado com o que se come quando se está na químio, pois as interações medicamentosas podem prejudicar a ação do quimioterápico. Um exemplo disso é o chá verde. Há alimentos que ajudam na prevenção, não no tratamento. Às vezes, o paciente investe até em suplementação por conta própria, mas isso pode ser perigoso.