Cirurgias de câncer crescem em MG, mas é preciso ampliar atendimento no interior

Cirurgias de câncer crescem em MG, mas é preciso ampliar atendimento no interior

BELO HORIZONTE — O sistema de saúde de Minas Gerais consegue tratar cada vez mais pacientes de câncer, mas garantir assistência integral a um número crescente de doentes ainda é um desafio. Essa é a avaliação de autoridades e especialistas que trabalham na área diante de balanço que indica ampliação da capacidade de atendimento oncológico no estado. Segundo estatísticas da Secretaria de Estado de Saúde (SES), o número de procedimentos clínicos e cirúrgicos passou de 39.146 em 2012 para 53.113 em 2013, alta de 35,7%. De janeiro a agosto de 2014, os atendimentos já somam 37.206, o equivalente a 95% do total registrado há dois anos.

A coordenadora da Alta e Média Complexidade da SES, Maria ângela de Avelar Nogueira, afirma que a ampliação do atendimento está relacionada a vários fatores, mas principalmente ao aumento do número de casos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), Minas deve terminar 2014 com 61.530 novos registros da doença – em 2011, de acordo com o Hospital das Clínicas da UFMG, o total de novos casos girou em torno de 40 mil no estado. “O câncer é uma doença do envelhecimento e , como a população está envelhecendo e tendo uma expectativa de vida mais alta, a tendência e ter um crescimento no total de casos”, diz Maria ângela. Ela ressalta que inovações tecnológicas, novos exames, terapias e medicações também contribuem para a alta nos atendimentos a pacientes com câncer.

Na avaliação da Secretaria de Estado de Saúde, os procedimentos clínicos e cirúrgicos também aumentam porque mais pessoas estão tendo mais acesso ao diagnóstico. “A população está se prevenindo mais e, sendo diagnosticada muitas vezes na atenção primária da saúde, que corresponde aos serviços básicos. Isso é muito positivo, porque as chances de êxito no tratamento são maiores”, afirma a coordenadora de Alta e Média Complexidade da SES.

Maria ângela Nogueira reconhece, no entanto, que há desafios para ampliar o atendimento, sobretudo no interior. Segundo ela, a rede de atendimento oncológico em Minas conta com 31 hospitais especializados, sendo sete localizados em Belo Horizonte. “Ainda há regiões que precisam melhorar no tratamento oncológico, a exemplo da macrorregião de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, onde ainda não há hospital credenciado pelo Ministério da Saúde para prestar esse tipo de assistência”, diz. Com isso, pacientes de câncer dessa região precisam peregrinar em ambulâncias para fazer cirurgias ou procedimentos de quimioterapia e radioterapia em outras cidades-polo, como Governador Valadares (Vale do Rio Doce) e Ipatinga (Vale do Aço), ou mesmo em Belo Horizonte.

Um hospital de Teófilo Otoni deu entrada no processo de credenciamento junto ao ministério, mas, se aprovado, só deve começar a oferecer serviços oncológicos a partir do ano que vem. O mesmo deve ocorrer em Itabira e Curvelo, na Região Central do estado, que estão cadastrando novas unidades para integrar a rede. Outra melhoria prevista é a capacitação de profissionais da saúde básica para investigar casos precoces da doença. Enquanto isso, admite Maria ângela, muitos pacientes ficam sem tratamento adequado. “Muitos desistem, porque ficam longe da família ou não têm condições físicas e emocionais de se submeter às viagens, a depender do quadro de saúde”, conta.

Demora

As filas também fazem com que a lei que prevê oferta do tratamento em até 60 dias muitas vezes seja descumprida. Segundo o coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, André Márcio Murad, a realização de alguns exames, como imuno-histoquímica (para identificação de células anormais, como as encontradas em neoplasias), pode demorar mais de um mês, e o início da quimioterapia ou radioterapia tarda entre três ou quatro meses.

O médico, que coordena o Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenantron), afirma que, para chegar ao oncologista, são cerca de 20 dias. “O grande problema é que muitas vezes o tratamento depende de exames sofisticados, de tomografias, exames especializados de patologia, e isso demora. Dessa forma, o doentes não começam o tratamento no tempo determinado de 60 dias”. Ele reconhece que há um esforço por parte de órgãos públicos, mas destaca que há ainda carência de profissionais (cirurgião oncológico, por exemplo), de mais hospitais e de aparelhos e medicação disponível para o tratamento. “Não adianta apenas melhorar o diagnóstico. é preciso ampliar o investimento e melhorar a gestão em toda a rede”, cobra.

Lição de solidariedade
Mechas que passavam da cintura foram cortadas em solidariedade a quem perdeu os cabelos devido ao tratamento do câncer. Os cortes significaram muito mais que a redução do tamanho dos fios. As madeixas serão doadas a instituições que confeccionam perucas. “A ideia surgiu de forma espontânea. Não imaginava ter tanta adesão”, disse o professor de biologia Michel Salomão, coordenador do projeto Fio de Esperança. As doações foram realizadas por alunas, professores, funcionárias, mães e até avós dos estudantes da Escola Estadual Elias Salomão, no Bairro Concenza, em Mateus Leme. Ao todo 110 pessoas, a maior parte mulheres, cortaram pelo menos 12 centímetros dos cabelos.

Entre adolescentes, a moda é deixar a madeixa grande. Mas, para as jovens da escola, quanto menor o cabelo, maior era o gesto de solidariedade. A menina Ylanna Prados Fonseca, de 8 anos, foi a primeira a cortar. “é uma forma de trazer alegria para as crianças que não têm cabelo”, afirmou. A mãe, Annaly Resende Rabelo Fonseca Prado, de 37, aproveitou a oportunidade para doar os 15 centímetros cortados há um mês. Os cortes começaram às 9h no pátio da escola. Cada menina que passava pela tesoura era aplaudida. Lorrayne Tavares Oliveira, de 17, cortou cerca de 40 centímetros. Os cabelos, que estavam bem abaixo da cintura, deram lugar ao chanel, na altura do queixo. “Desde janeiro não cortava o cabelo. Fiquei muito feliz de poder participar. é uma forma de demonstrar amor ao próximo”, disse.

A maioria dos doadores eram meninas, mas também não faltaram meninos que se solidarizassem, como foi o caso de Victor Cristnni, de 15. “A última vez que cortei foi em 2011, mas agora é por um motivo justo: ajudar as pessoas que não podem mais ter o cabelo natural”, afirmou. O trabalho foi feito por cabeleireiras que aproveitaram um dia de folga para ir até a escola. O Fio de Esperança é a segunda campanha de que participam. “Tenho algumas clientes que fazem quimioterapia. Como percebo que esse tratamento mexe muito com a autoestima delas, costumo lavar e escovar as perucas para elas”, contou Natália Fernanda Cândida, proprietária do salão Chanell SPA e Noivas.

Enquanto isso…

…Em Uberlândia, MPF cobra acompanhamento
O Ministério Público Federal (MPF) em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, entrou com ação civil pública para que pacientes com câncer tenham acompanhamento médico depois que receberem alta. O MPF afirma que há denúncias de que o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) e a rede pública municipal de saúde não dão assistência adequada aos doentes que, mesmo após a alta médica, apresentam diagnósticos relacionados ao câncer.

 

BELO HORIZONTE — O sistema de saúde de Minas Gerais consegue tratar cada vez mais pacientes de câncer, mas garantir assistência integral a um número crescente de doentes ainda é um desafio. Essa é a avaliação de autoridades e especialistas que trabalham na área diante de balanço que indica ampliação da capacidade de atendimento oncológico no estado. Segundo estatísticas da Secretaria de Estado de Saúde (SES), o número de procedimentos clínicos e cirúrgicos passou de 39.146 em 2012 para 53.113 em 2013, alta de 35,7%. De janeiro a agosto de 2014, os atendimentos já somam 37.206, o equivalente a 95% do total registrado há dois anos.

A coordenadora da Alta e Média Complexidade da SES, Maria ângela de Avelar Nogueira, afirma que a ampliação do atendimento está relacionada a vários fatores, mas principalmente ao aumento do número de casos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), Minas deve terminar 2014 com 61.530 novos registros da doença – em 2011, de acordo com o Hospital das Clínicas da UFMG, o total de novos casos girou em torno de 40 mil no estado. “O câncer é uma doença do envelhecimento e , como a população está envelhecendo e tendo uma expectativa de vida mais alta, a tendência e ter um crescimento no total de casos”, diz Maria ângela. Ela ressalta que inovações tecnológicas, novos exames, terapias e medicações também contribuem para a alta nos atendimentos a pacientes com câncer.

Na avaliação da Secretaria de Estado de Saúde, os procedimentos clínicos e cirúrgicos também aumentam porque mais pessoas estão tendo mais acesso ao diagnóstico. “A população está se prevenindo mais e, sendo diagnosticada muitas vezes na atenção primária da saúde, que corresponde aos serviços básicos. Isso é muito positivo, porque as chances de êxito no tratamento são maiores”, afirma a coordenadora de Alta e Média Complexidade da SES.

Maria ângela Nogueira reconhece, no entanto, que há desafios para ampliar o atendimento, sobretudo no interior. Segundo ela, a rede de atendimento oncológico em Minas conta com 31 hospitais especializados, sendo sete localizados em Belo Horizonte. “Ainda há regiões que precisam melhorar no tratamento oncológico, a exemplo da macrorregião de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, onde ainda não há hospital credenciado pelo Ministério da Saúde para prestar esse tipo de assistência”, diz. Com isso, pacientes de câncer dessa região precisam peregrinar em ambulâncias para fazer cirurgias ou procedimentos de quimioterapia e radioterapia em outras cidades-polo, como Governador Valadares (Vale do Rio Doce) e Ipatinga (Vale do Aço), ou mesmo em Belo Horizonte.

Um hospital de Teófilo Otoni deu entrada no processo de credenciamento junto ao ministério, mas, se aprovado, só deve começar a oferecer serviços oncológicos a partir do ano que vem. O mesmo deve ocorrer em Itabira e Curvelo, na Região Central do estado, que estão cadastrando novas unidades para integrar a rede. Outra melhoria prevista é a capacitação de profissionais da saúde básica para investigar casos precoces da doença. Enquanto isso, admite Maria ângela, muitos pacientes ficam sem tratamento adequado. “Muitos desistem, porque ficam longe da família ou não têm condições físicas e emocionais de se submeter às viagens, a depender do quadro de saúde”, conta.

Demora

As filas também fazem com que a lei que prevê oferta do tratamento em até 60 dias muitas vezes seja descumprida. Segundo o coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, André Márcio Murad, a realização de alguns exames, como imuno-histoquímica (para identificação de células anormais, como as encontradas em neoplasias), pode demorar mais de um mês, e o início da quimioterapia ou radioterapia tarda entre três ou quatro meses.

O médico, que coordena o Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenantron), afirma que, para chegar ao oncologista, são cerca de 20 dias. “O grande problema é que muitas vezes o tratamento depende de exames sofisticados, de tomografias, exames especializados de patologia, e isso demora. Dessa forma, o doentes não começam o tratamento no tempo determinado de 60 dias”. Ele reconhece que há um esforço por parte de órgãos públicos, mas destaca que há ainda carência de profissionais (cirurgião oncológico, por exemplo), de mais hospitais e de aparelhos e medicação disponível para o tratamento. “Não adianta apenas melhorar o diagnóstico. é preciso ampliar o investimento e melhorar a gestão em toda a rede”, cobra.

Lição de solidariedade
Mechas que passavam da cintura foram cortadas em solidariedade a quem perdeu os cabelos devido ao tratamento do câncer. Os cortes significaram muito mais que a redução do tamanho dos fios. As madeixas serão doadas a instituições que confeccionam perucas. “A ideia surgiu de forma espontânea. Não imaginava ter tanta adesão”, disse o professor de biologia Michel Salomão, coordenador do projeto Fio de Esperança. As doações foram realizadas por alunas, professores, funcionárias, mães e até avós dos estudantes da Escola Estadual Elias Salomão, no Bairro Concenza, em Mateus Leme. Ao todo 110 pessoas, a maior parte mulheres, cortaram pelo menos 12 centímetros dos cabelos.

Entre adolescentes, a moda é deixar a madeixa grande. Mas, para as jovens da escola, quanto menor o cabelo, maior era o gesto de solidariedade. A menina Ylanna Prados Fonseca, de 8 anos, foi a primeira a cortar. “é uma forma de trazer alegria para as crianças que não têm cabelo”, afirmou. A mãe, Annaly Resende Rabelo Fonseca Prado, de 37, aproveitou a oportunidade para doar os 15 centímetros cortados há um mês. Os cortes começaram às 9h no pátio da escola. Cada menina que passava pela tesoura era aplaudida. Lorrayne Tavares Oliveira, de 17, cortou cerca de 40 centímetros. Os cabelos, que estavam bem abaixo da cintura, deram lugar ao chanel, na altura do queixo. “Desde janeiro não cortava o cabelo. Fiquei muito feliz de poder participar. é uma forma de demonstrar amor ao próximo”, disse.

A maioria dos doadores eram meninas, mas também não faltaram meninos que se solidarizassem, como foi o caso de Victor Cristnni, de 15. “A última vez que cortei foi em 2011, mas agora é por um motivo justo: ajudar as pessoas que não podem mais ter o cabelo natural”, afirmou. O trabalho foi feito por cabeleireiras que aproveitaram um dia de folga para ir até a escola. O Fio de Esperança é a segunda campanha de que participam. “Tenho algumas clientes que fazem quimioterapia. Como percebo que esse tratamento mexe muito com a autoestima delas, costumo lavar e escovar as perucas para elas”, contou Natália Fernanda Cândida, proprietária do salão Chanell SPA e Noivas.

Enquanto isso…

…Em Uberlândia, MPF cobra acompanhamento
O Ministério Público Federal (MPF) em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, entrou com ação civil pública para que pacientes com câncer tenham acompanhamento médico depois que receberem alta. O MPF afirma que há denúncias de que o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) e a rede pública municipal de saúde não dão assistência adequada aos doentes que, mesmo após a alta médica, apresentam diagnósticos relacionados ao câncer.