Cuidados paliativos: esforço para uma vida com dignidade
Há pelo menos seis anos, três vezes na semana, a psicóloga Flávia Roberta chega ao Hospital Luiz Antônio, da Liga Contra o Câncer, e se reúne com os outros sete colegas que integram sua equipe para discutir, caso a caso, a situação dos pacientes. As reuniões de equipes multiprofissionais não são estranhas à realidade do hospital, que atende pacientes oncológicos de todo Rio Grande do Norte. O grupo do qual Flávia participa, no entanto, é diferente dos outros: seus pacientes já não possuem mais chance de cura da doença que os acomete. Sentados em círculo na sala vizinha ao Ambulatório de Cuidados Paliativos, a equipe, composta por profissionais que vão da medicina à assistência social, discute como garantir não a cura, mas uma vida com dignidade a cada um dos pacientes até os momentos finais. “Os cuidados paliativos visam proporcionar qualidade de vida para um paciente que já possui uma doença crônica. São cuidados ativos, integrais, que possibilitam ao paciente estar nesse processo de adoecimento, porém aproveitar com qualidade o seu tempo”, explica Flávia. “Isso pode ser rápido, mas também pode levar anos. Não importa: o importante é que a pessoa possa viver esse tempo de forma digna”, completa a fonoaudióloga Carla Afonso, que integra a equipe. A atividade demanda uma integração de diversos profissionais de saúde, como nutricionistas, fonoaudiólogos, médicos, psicólogos, assistentes sociais e farmacêuticos. O objetivo deixa de ser a doença, e passa a ser o paciente. Como a cura não é mais uma possibilidade, os profissionais buscam tratar os sintomas físicos, mas não apenas isso: vão atuar também nas dimensões psicológica, social e familiar nas quais ele está inserido.
Apesar da morte ser a única certeza que podemos ter sobre nosso tempo na terra, o tema ainda é tratado como tabu na cultura Ocidental. Muitas vezes, a equipe de Cuidados Paliativos enfrenta dificuldades para fazer com que as famílias compreendam que sua atuação não se trata de um abandono do paciente, mas o contrário: representa oportunidade de que ele esteja bem cuidado e acompanhado até seus últimos momentos. “As pessoas às vezes acham que aqui é a clínica da morte, porque a partir do momento em que pensam que o tratamento não vai mais modificar a doença, enxergam como se estivéssemos desistindo deles e fôssemos abandonar os cuidados”, relata a nutricionista Yasmin Nagashima, que também integra a equipe de Cuidados Paliativos da Liga. O número reduzido de equipes existente no Rio Grande do Norte contribui para que a visão sobre o trabalho seja muitas vezes estereotipada. No Estado, estão disponíveis serviços específicos de Cuidados Paliativos na Liga Contra o Câncer, no Hospital Walfredo Gurgel e no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL). Apesar dos cuidados paliativos terem surgido oficialmente como prática na área de saúde na década de 1960, no Reino Unido, e de ter começado a ser difundido na América na década de 1970, a maior parte das equipes no Rio Grande do Norte só foram estruturadas ao longo da última década, e ainda em poucos serviços. O ideal, diz o médico Adailton Marinho dos Santos, que coordena o serviço na Liga, seria que as primeiras conversas sobre cuidados paliativos fossem introduzidas antes, no momento do diagnóstico de uma doença crônica que poderia colocar em risco a vida daquele paciente. “Isso com certeza ampliaria a aceitação e compreensão sobre o que é o cuidado paliativo. Evidentemente, pelo tamanho das equipes, não é possível fazer todo o acompanhamento multiprofissional desde o começo. Mas o próprio médico pode ter um olhar de cuidados paliativos para o tratamento do paciente”, explica.
O próprio termo “paliativo” vem do latim, pallium, que quer dizer manto. A palavra traz a ideia de cobertura, abrigo e conforto para minimizar o sofrimento. “Cada caso é individualizado. Muitas vezes, o primeiro contato da pessoa será com as equipes de assistência social, de psicologia, porque os sintomas físicos dela ainda não são tão incômodos a ponto de necessitar da intervenção médica. Progressivamente, passa a ser necessário ajustar a atuação de cada especialidade da equipe”, explica a geriatra Amanda Aranha, que coordena a comissão de cuidados paliativos no Hospital Universitário Onofre Lopes, também em Natal.
Fonte: Liga Norte Riograndense Contra o Câncer
Há pelo menos seis anos, três vezes na semana, a psicóloga Flávia Roberta chega ao Hospital Luiz Antônio, da Liga Contra o Câncer, e se reúne com os outros sete colegas que integram sua equipe para discutir, caso a caso, a situação dos pacientes. As reuniões de equipes multiprofissionais não são estranhas à realidade do hospital, que atende pacientes oncológicos de todo Rio Grande do Norte. O grupo do qual Flávia participa, no entanto, é diferente dos outros: seus pacientes já não possuem mais chance de cura da doença que os acomete. Sentados em círculo na sala vizinha ao Ambulatório de Cuidados Paliativos, a equipe, composta por profissionais que vão da medicina à assistência social, discute como garantir não a cura, mas uma vida com dignidade a cada um dos pacientes até os momentos finais. “Os cuidados paliativos visam proporcionar qualidade de vida para um paciente que já possui uma doença crônica. São cuidados ativos, integrais, que possibilitam ao paciente estar nesse processo de adoecimento, porém aproveitar com qualidade o seu tempo”, explica Flávia. “Isso pode ser rápido, mas também pode levar anos. Não importa: o importante é que a pessoa possa viver esse tempo de forma digna”, completa a fonoaudióloga Carla Afonso, que integra a equipe. A atividade demanda uma integração de diversos profissionais de saúde, como nutricionistas, fonoaudiólogos, médicos, psicólogos, assistentes sociais e farmacêuticos. O objetivo deixa de ser a doença, e passa a ser o paciente. Como a cura não é mais uma possibilidade, os profissionais buscam tratar os sintomas físicos, mas não apenas isso: vão atuar também nas dimensões psicológica, social e familiar nas quais ele está inserido.
Apesar da morte ser a única certeza que podemos ter sobre nosso tempo na terra, o tema ainda é tratado como tabu na cultura Ocidental. Muitas vezes, a equipe de Cuidados Paliativos enfrenta dificuldades para fazer com que as famílias compreendam que sua atuação não se trata de um abandono do paciente, mas o contrário: representa oportunidade de que ele esteja bem cuidado e acompanhado até seus últimos momentos. “As pessoas às vezes acham que aqui é a clínica da morte, porque a partir do momento em que pensam que o tratamento não vai mais modificar a doença, enxergam como se estivéssemos desistindo deles e fôssemos abandonar os cuidados”, relata a nutricionista Yasmin Nagashima, que também integra a equipe de Cuidados Paliativos da Liga. O número reduzido de equipes existente no Rio Grande do Norte contribui para que a visão sobre o trabalho seja muitas vezes estereotipada. No Estado, estão disponíveis serviços específicos de Cuidados Paliativos na Liga Contra o Câncer, no Hospital Walfredo Gurgel e no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL). Apesar dos cuidados paliativos terem surgido oficialmente como prática na área de saúde na década de 1960, no Reino Unido, e de ter começado a ser difundido na América na década de 1970, a maior parte das equipes no Rio Grande do Norte só foram estruturadas ao longo da última década, e ainda em poucos serviços. O ideal, diz o médico Adailton Marinho dos Santos, que coordena o serviço na Liga, seria que as primeiras conversas sobre cuidados paliativos fossem introduzidas antes, no momento do diagnóstico de uma doença crônica que poderia colocar em risco a vida daquele paciente. “Isso com certeza ampliaria a aceitação e compreensão sobre o que é o cuidado paliativo. Evidentemente, pelo tamanho das equipes, não é possível fazer todo o acompanhamento multiprofissional desde o começo. Mas o próprio médico pode ter um olhar de cuidados paliativos para o tratamento do paciente”, explica.
O próprio termo “paliativo” vem do latim, pallium, que quer dizer manto. A palavra traz a ideia de cobertura, abrigo e conforto para minimizar o sofrimento. “Cada caso é individualizado. Muitas vezes, o primeiro contato da pessoa será com as equipes de assistência social, de psicologia, porque os sintomas físicos dela ainda não são tão incômodos a ponto de necessitar da intervenção médica. Progressivamente, passa a ser necessário ajustar a atuação de cada especialidade da equipe”, explica a geriatra Amanda Aranha, que coordena a comissão de cuidados paliativos no Hospital Universitário Onofre Lopes, também em Natal.
Fonte: Liga Norte Riograndense Contra o Câncer